NOVA YORK / BANGALORE (Reuters) - A L'Oreal SA, Unilever e outras multinacionais que adquiriram marcas de cuidados pessoais fundadas por negros estão se movendo para tranquilizar seus principais clientes, alguns dos quais se comprometeram, após protestos por justiça racial, a direcionar seus gastos apenas para empresas em que os proprietários sejam negros.
A marca de beleza multicultural da L'Oreal, Carol's
Daughter, fundada por uma mulher negra em sua cozinha do Brooklyn em 1993 e
batizada com esse nome em homenagem a sua mãe, disse no dia 10 de junho que
queria "esclarecer algumas coisas" quando publicou uma mensagem em
sua página do Instagram.
"A Carol's Daughter é fundada e liderada por
negros e ingressou na família de marcas L'Oreal em 2014", afirmou. A
fundadora Lisa Price “ainda está ativamente envolvida em todos os aspectos do
negócio; liderando o desenvolvimento de produtos e a visão criativa da marca”,
afirma o comunicado.
Price é vice-presidente sênior e diretora criativa
da Carol's Daughter, que faz parte da Divisão de Beleza Multicultural da
L'Oreal USA e de seu Comitê Executivo.
Nesses últimos anos, empresas multinacionais
adquiriram produtos voltados para os consumidores negros e comercializaram
essas marcas como sendo autenticamente de negros, com fórmulas caseiras,
ofertas personalizadas e marketing de bem-estar. Mas depois dos protestos que
se seguiram à morte de um homem negro desarmado, George Floyd, em 25 de maio,
muitos consumidores estão prometendo comprar mais mercadorias de empresas cujos
donos sejam negros, como forma de aumentar a equidade racial. A SheaMoisture,
uma empresa de cuidados pessoais fundada no Harlem por imigrantes liberianos em
1991, tornou-se parte da Unilever em 2017 depois que a multinacional
anglo-holandesa Unilever comprou a Sundial Brands, uma empresa de beleza
sediada em Nova York. Consumidores negros ameaçaram boicotar seus produtos em
junho, citando sua propriedade corporativa.
No dia 9 de junho, Cara Sabin, CEO da Sundial
Brands, que opera como uma unidade autônoma na Unilever, postou uma mensagem no
Instagram para tranquilizá-los. "Sou uma CEO negra, no meio empresarial
branco da América, liderando uma marca que existe para atender nossos
consumidores negros", escreveu Sabin.
O poder de compra dos negros nos Estados Unidos deve
subir para $ 1,5 trilhão até 2021, comparado aos $ 1,3 trilhão do ano passado,
de acordo com um relatório da Nielsen, uma empresa de análise de dados que
rastreia as compras dos consumidores. A comunidade negra representa 13,4% da
população dos EUA e gasta mais em relação a outros grupos em produtos capilares
e de beleza e fragrâncias femininas. Em 2017, por exemplo, os compradores
negros representavam 85% do total de $ 63 milhões que a indústria americana
gasta com produtos multiculturais de tratamento capilar.
O grupo também representou 22,4% e 21% dos gastos
totais da indústria americana em fragrâncias e produtos de higiene feminina
respectivamente naquele ano, mostrou o relatório.
As vendas de produtos capilares direcionados as
multietnicidades aumentaram 50% em relação ao mesmo período do ano anterior,
até 17 de maio, de acordo com a Strategic Solutions International, uma unidade
da Nielsen. Empresas de tratamento capilar pertencentes a negros, representaram
14% da categoria, mas impulsionaram 20% desse crescimento nas lojas de varejo.
Mas alguns consumidores dizem que estão prestando
mais atenção à posse de uma variedade de bens e serviços destinados aos negros,
incluindo livrarias, restaurantes e farmácias. No site de angariação de fundos
GoFundMe, existem quase 2.000 páginas criadas em apoio às empresas de
proprietários negros, sendo a maioria delas criada nas últimas semanas.
“Estamos lidando com essas questões com os negros há
quanto tempo, hein? Mas há algo sobre esse momento", disse Vivian Duker,
advogada corporativa com sede em Baltimore. No início deste mês, ela se uniu a
um amigo para lançar uma campanha no Change.org chamada
"#VERIFYBLACK", que já conseguiu mais de 7.000 assinaturas. A petição
busca que as plataformas de mídia social identifiquem de forma mais clara as
empresas de proprietários negros.
Marcas como Carol's Daughter e SheaMoisture não se
qualificariam como empresas de proprietários negros, disse ela à Reuters.
A Unilever e a L'Oreal não responderam aos pedidos
para comentar.
Em 2018, a Procter & Gamble adquiriu a Walker
& Co, empresa controladora da Bevel, uma linha de produtos de beleza para
homens, e a Form Beauty, uma linha de tratamento capilar para mulheres - sendo
as duas, principalmente, para pessoas de cor. A vice-presidente de marketing da
Walker & Co, Tia Cummings, disse à Reuters que fazer parte da P&G
ajudou a ampliar a disponibilidade de seus produtos, facilitando a busca e
compra deles por homens e mulheres.
Dana Williams-Johnson, instrutora do Departamento de
Marketing da Howard University School of Business, disse que as empresas
"que ganham dinheiro com os consumidores negros deveriam ter uma liderança
que refletisse os consumidores que compram suas marcas".
(Esta história rearquiva para remover o primeiro
nome de Price no quatro parágrafo)
“Qual a
diversidade dos conselhos dessas empresas? Quantos negros estão no topo com um
lugar à mesa da sala de reuniões? O quanto todas essas marcas realmente
valorizam o dólar do negro? Essas serão as perguntas que precisam ser
respondidas a seguir”, acrescentou.
De acordo com a revista Black Enterprise, 187 das
empresas do S&P 500 não tinham um único membro negro em seus conselhos em
2019.
A Cantu Beauty, empresa de tratamento capilar,
enfrentou essas perguntas no Instagram este mês, com alguns compradores
observando que ela foi vendida para a PDC Brands em 2015 e declarando que
boicotariam a marca em favor de empresas de proprietários negros.
Assim, no dia 12 de junho, a empresa organizou um
bate-papo ao vivo no Instagram "com as pessoas por trás da marca".
"Quero abrir a cortina e deixar vocês verem exatamente o que está
acontecendo nos bastidores", disse a vice-presidente mundial da Cantu
Beauty, Dametria Mustin, durante a transmissão ao vivo.
A PDC Brands não respondeu aos pedidos para
comentar. Synthea Hairston, 24, de Pittsburgh, Pensilvânia, chamou a Cantu de
sua marca “número 1” por muitos anos. Mas ela se recusa a comprar os produtos
da marca novamente.
"Agora minha consciência está me corroendo...
Eu literalmente vou manter uma lista comigo o tempo todo para garantir que o
que estou pegando seja de proprietários negros”.
Tradutor: Jaime Junior
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